Exposição Velado

“Velado” é uma exposição com uma seleção de obras de Jaime Carvalho criadas durante a sua tese de mestrado em Itália.
Imediatamente partindo do título da exposição, a única certeza que subitamente é revelada ao observado é que o real estará hipoteticamente oculto. Foi sobre também sobre essa omissão que dissertou, mas focado no panejamento e apoiando-se nos exemplos escultóricos de um longo período da história da arte, procurou compreender primeiro a poética inteligível nas obras que exploraram essa formalidade, para depois ele mesmo produzir exemplos com base nesta estética milenar e que como concluiu, bastante enraizada na cultura ocidental.
Desde Claus Sluter, o inovador escultor da corte de Filipe II a Nicoló dell'Arca que com a sua obra prima, "o lamento de Cristo", que parece antecipar para o Gótico tardio a teatralidade do Barroco e que antecede o virtuoso Gian Lorenzo Bernini, também inevitavelmente referido na investigação. Termina a sua tese com a escultura, Cristo Velado, de Giuseppe Sanmartino, hoje presente na capela de Sansevero, em Nápoles.
Uma investigação que depressa o fez compreender que o véu e o panejamento cumprem um papel fundamental para atribuir á escultura imóvel, aquilo que Georg W. Friedrich Hegel, nas suas lições de Estética, define como um ideal de beleza; “a expressão do espiritual é a essência da figura humana” e que para a obra ser completa o artista deverá buscar a mimeses dessa expressão, que sucintamente se encontra na Natureza.
O próprio mestre Miguel Angelo, tinha absoluta consciência disso, não será por acaso que em uma das suas obras primas, o David. Subtilmente lhe representa as veias da mão direita do braço caído, inchadas e as da mão esquerda que se soleva, menos acentuadas, proporcionando ao observador a perceção de vida que pulsa e circula dentro daquela estátua.

Velado – Resin and fiber glass, 200x60x80 cm, 2012

Jaime evidenciou na sua tese, que através da representação do panejamento foram vários os artistas lograrão expor esta valência expressiva do espiritual para alcançar aquela definição de Belo, porque no elemento têxtil é evidente o reflexo da ação da própria Natureza, ou ausência dela.

Por exemplo: um grupo escultórico que retrate um momento de conquista histórica, pela importância do evento terá sempre uma composição em que as vestes e véus se agitam com o vento, proporcionando à cena o vigor de uma conquista. Ao passo que se entrarmos num cemitério, todas as vestes endossadas pelas personagens eternizadas, estão caídas e “sem vida”, mesmo as esculturas das personagens que na composição lamentam a sua morte, surgem com trajes caídos horando a tristeza daquele momento solene.
Para além deste recurso estilístico que na sua essência define a expressão do natural, a utilização do véu na escultura também capturou a atenção do escultor por outro motivo e no qual focou maioritariamente o seu esforço para desenvolver o trabalho que apresenta na Galeria Resistência.
A dicotomia entre presença ou ausência do próprio corpo, talvez não seja para o observador o início da análise de cada uma das obras e por esse motivo o autor as tenha agrupado através deste título da exposição. Na verdade, na maioria dos trabalhos só reconhecemos a figura humana graças á modelação rigorosa da superfície que as esconde, o véu. Em poucas observamos a superfície do corpo e na verdade na maioria das obras, afirma, este nem existe. Assim e retomando o pensamento de Hegel, o que Jaime considera que estes panejamentos velam é a cima de tudo o próprio conteúdo abstrato do conceito de espiritualidade e que assim resulta, no seu entender, mais próximo do ser humano. Concluindo que esta camada (véu) é na verdade um elo de ligação e não uma barreira ao olhar e pensamento do observador.