A Galeria Resistência reúne as obras de nove artistas, abrangendo tanto pinturas quanto esculturas, que abordam temas semelhantes como tempo, movimento, força, realismo e identidade; assuntos que envolvem as obras em diversos contextos. Cada artista aborda a sua arte através da técnica que utiliza e da sua perspetiva, com narrativas que divergem, mas que se cruzam em momentos diferentes, especialmente na sua representação da condição humana a partir de um ponto de vista único. São cenas que nos levam a questionar questões quotidianas e o uso de materiais que revelam formas e movimentos, conferindo novos significados aos acontecimentos.
Aleksandar Eftimovski opta pelo mármore para estruturar o seu trabalho, um material durável que nas mãos do artista parece maleável. Contornos precisamente modelados assumem formas abstratas. Cada detalhe de *Inverse Rotation* é esculpido de tal forma que cada parte cria formas e movimentos que resistem ao tempo, moldando o material com o qual trabalha. A característica marcante do escultor é a espontaneidade, que nesta obra está presente na rigidez do mármore; a força da sua escultura reside na leveza que as suas formas assumem como um todo.
Daniela Guerreiro denota claramente e de forma realista a sua posição sobre a condição humana em “The White Stripes”, onde a artista materializa os seus pensamentos nas formas que moldam o corpo com todas as subtilezas e detalhes que um ser humano, na sua diversidade, pode exibir. A artista destaca delicadamente a vulnerabilidade oculta nos corpos naturais e as suas várias possibilidades. Há temas significativos em jogo no trabalho da pintora, como feminilidade, experiência, crítica, força e identidade. Acima de tudo, é uma forma de abraçar as diferenças e não reforçá-las.
Francisco Remiseiro trabalha tipicamente com a emoção humana, esculpindo peças que exprimem uma variedade de sensações. Em “Man’s Diets”, o artista revela, de forma estática, uma peça escultórica fragmentada; onde, mesmo sem a presença do todo, o significado torna-se claro. O artista provoca uma reflexão sobre os nossos hábitos de consumo. Trata-se do ato de apanhar um pedaço de alimento, mas não de qualquer alimento; a maçã é uma fruta com várias simbolologias. Na escultura de Remiseiro, a maçã representa o alimento com o qual o homem satisfaz a sua própria dieta, permitindo interpretações subjetivas em relação a este alimento.
Jaime Carvalho cria formas expressivas a partir de cerâmica em ‘Awakening’, ‘Torso’ e ‘Democracy’, onde todas as esculturas parecem estar em movimento; os seus gestos diferem, assim como as suas intenções, já que cada uma está posicionada numa direção diferente e pertence a narrativas distintas. Em ‘Tension’, a expressividade da obra não está apenas concentrada no movimento, mas também sustentada pelo olhar; o mesmo ocorre em ‘Democracy’, permitindo um diálogo entre a experiência escultórica de ambas as peças. As quatro esculturas estão organizadas harmoniosamente no espaço, transmitindo uma percepção de algo não estático, movendo-se de acordo com a subjetividade das suas expressões.
A presença de referências arquitetónicas é constante nas obras de João MouroEm “Redondamente Arquitectando” o artista estabelece relações entre formas e espaço. As formas que contornam a obra sugerem uma ampla perceção do espaço interior, devido à transparência intencional que permite visualizar o interior da casa. O espaço expande-se, ampliando também a perceção do espectador, que encontra um jogo de luzes e cores que entram na obra. O volume presente no trabalho de Mouro explica a conexão entre espaço, escultura e luminosidade.
Um dos elementos mais marcantes das aguarelas de Roberto and Milena Atzori é a leveza das cores e a vivacidade dos gestos e formas que predominam nas suas pinturas. A aguarela revela as várias possibilidades sobre o ambiente onde as figuras estão localizadas, sendo a presença da natureza uma constante em cada obra. Cada figura mostra a liberdade e a integração do ser humano em ambientes rodeados pela natureza, estabelecendo uma relação pacífica com este encontro. Os artistas trabalham com emoções humanas, que vão desde medos até paixões, resultando no choque harmonioso desses elementos distintos em cada obra.
A escultura "Abismo" de Rogério Timóteo revela a força e a fragilidade do ser humano tentando equilibrar-se diante dos desafios. A escultura sugere uma abordagem do tempo, o tempo de resistência, mas também o tempo de reconciliação consigo mesmo. O homem é retratado numa situação de vulnerabilidade e poder. É como se, ao dominar o material, o artista conseguisse mostrar como o homem domina a sua própria fragilidade.
Os trabalhos de Tony Cassanelli transmite várias sensações que provocam o espectador através do encontro com o olhar das suas figuras, que revelam e ocultam emoções. Um senso de mistério está presente em ambas as obras do artista. Cassanelli esculpe, utilizando diferentes materiais, a identidade dessas mulheres de uma forma única. Independentemente das cores que o artista escolhe usar, a sua linguagem permanece a mesma. O realismo adotado nas suas obras cria um impacto visual único, capaz de revelar a intensidade da sua intenção.
Portrait, Oil on wood, 20 x 27
No Title, Oil on wood, 25 x 30
Dancer 2, Oil on canvas, 29 x 17
Dancer 1, Oil on canvas, 14 x 20
Virginia Brito aborda diferentes temas nas suas obras, que vão da intimidade à conexão. A artista explora o movimento da dança e adiciona cores a imagens em preto e branco, com o dançarino emergindo neste ambiente colorido e vibrante ao seu redor, conferindo nova vivacidade e presença à pintura. Por outro lado, nas suas pinturas a óleo sobre madeira, Virgínia destaca imagens que exaltam a tranquilidade, combinando a representação de animais que reforçam este conceito. A sua escolha de tons claros enfatiza a predominância da serenidade e do silêncio.
A exposição, "O Coletivo", ocupa o espaço da Galeria Resistência, propondo diferentes reflexões. A importância de combinar percepções e linguagens visuais diversas destaca a necessidade de uma exposição coletiva. Através da amalgamação de obras criadas em contextos distintos e da expressividade de cada artista, torna-se possível contemplar a relação que cada um estabelece com o material e as emoções que se manifestam nas suas obras. A exposição não apenas exibe o potencial individual de cada artista, mas também enfatiza o potencial coletivo de trazer para o mesmo espaço possibilidades de diálogo entre as obras e novas indagações.
Texto por Luiza Melo
Crítica de arte
A Galeria Resistência reúne as obras de nove artistas, abrangendo tanto pinturas quanto esculturas, que abordam temas semelhantes como tempo, movimento, força, realismo e identidade; assuntos que envolvem as obras em diversos contextos. Cada artista aborda a sua arte através da técnica que utiliza e da sua perspetiva, com narrativas que divergem, mas que se cruzam em momentos diferentes, especialmente na sua representação da condição humana a partir de um ponto de vista único. São cenas que nos levam a questionar questões quotidianas e o uso de materiais que revelam formas e movimentos, conferindo novos significados aos acontecimentos.
Aleksandar Eftimovski opta pelo mármore para estruturar o seu trabalho, um material durável que nas mãos do artista parece maleável. Contornos precisamente modelados assumem formas abstratas. Cada detalhe de *Inverse Rotation* é esculpido de tal forma que cada parte cria formas e movimentos que resistem ao tempo, moldando o material com o qual trabalha. A característica marcante do escultor é a espontaneidade, que nesta obra está presente na rigidez do mármore; a força da sua escultura reside na leveza que as suas formas assumem como um todo.
Marble, 35 x 10 x 10
Daniela Guerreiro denota claramente e de forma realista a sua posição sobre a condição humana em “The White Stripes”, onde a artista materializa os seus pensamentos nas formas que moldam o corpo com todas as subtilezas e detalhes que um ser humano, na sua diversidade, pode exibir. A artista destaca delicadamente a vulnerabilidade oculta nos corpos naturais e as suas várias possibilidades. Há temas significativos em jogo no trabalho da pintora, como feminilidade, experiência, crítica, força e identidade. Acima de tudo, é uma forma de abraçar as diferenças e não reforçá-las.
Oil on canvas, 50 x 50
Francisco Remiseiro trabalha tipicamente com a emoção humana, esculpindo peças que exprimem uma variedade de sensações. Em “Man’s Diets”, o artista revela, de forma estática, uma peça escultórica fragmentada; onde, mesmo sem a presença do todo, o significado torna-se claro. O artista provoca uma reflexão sobre os nossos hábitos de consumo. Trata-se do ato de apanhar um pedaço de alimento, mas não de qualquer alimento; a maçã é uma fruta com várias simbolologias. Na escultura de Remiseiro, a maçã representa o alimento com o qual o homem satisfaz a sua própria dieta, permitindo interpretações subjetivas em relação a este alimento.
Birch wood, 29 x 29 x 9
Jaime Carvalho cria formas expressivas a partir de cerâmica em ‘Awakening’, ‘Torso’ e ‘Democracy’, onde todas as esculturas parecem estar em movimento; os seus gestos diferem, assim como as suas intenções, já que cada uma está posicionada numa direção diferente e pertence a narrativas distintas. Em ‘Tension’, a expressividade da obra não está apenas concentrada no movimento, mas também sustentada pelo olhar; o mesmo ocorre em ‘Democracy’, permitindo um diálogo entre a experiência escultórica de ambas as peças. As quatro esculturas estão organizadas harmoniosamente no espaço, transmitindo uma percepção de algo não estático, movendo-se de acordo com a subjetividade das suas expressões.
Ceramic, 35 x 12 x 10
Resin, 164 x 30 x 34
Ceramic, 165 x 45 x 50
A presença de referências arquitetónicas é constante nas obras de João MouroEm “Redondamente Arquitectando” o artista estabelece relações entre formas e espaço. As formas que contornam a obra sugerem uma ampla perceção do espaço interior, devido à transparência intencional que permite visualizar o interior da casa. O espaço expande-se, ampliando também a perceção do espectador, que encontra um jogo de luzes e cores que entram na obra. O volume presente no trabalho de Mouro explica a conexão entre espaço, escultura e luminosidade.
Mixed media and wood 95 x 30 x 65
Um dos elementos mais marcantes das aguarelas de Roberto and Milena Atzori é a leveza das cores e a vivacidade dos gestos e formas que predominam nas suas pinturas. A aguarela revela as várias possibilidades sobre o ambiente onde as figuras estão localizadas, sendo a presença da natureza uma constante em cada obra. Cada figura mostra a liberdade e a integração do ser humano em ambientes rodeados pela natureza, estabelecendo uma relação pacífica com este encontro. Os artistas trabalham com emoções humanas, que vão desde medos até paixões, resultando no choque harmonioso desses elementos distintos em cada obra.
Watercolour on paper, 28 x 21
A escultura "Abismo" de Rogério Timóteo revela a força e a fragilidade do ser humano tentando equilibrar-se diante dos desafios. A escultura sugere uma abordagem do tempo, o tempo de resistência, mas também o tempo de reconciliação consigo mesmo. O homem é retratado numa situação de vulnerabilidade e poder. É como se, ao dominar o material, o artista conseguisse mostrar como o homem domina a sua própria fragilidade.
Bronze, 40 x 58 x 20
Os trabalhos de Tony Cassanelli transmite várias sensações que provocam o espectador através do encontro com o olhar das suas figuras, que revelam e ocultam emoções. Um senso de mistério está presente em ambas as obras do artista. Cassanelli esculpe, utilizando diferentes materiais, a identidade dessas mulheres de uma forma única. Independentemente das cores que o artista escolhe usar, a sua linguagem permanece a mesma. O realismo adotado nas suas obras cria um impacto visual único, capaz de revelar a intensidade da sua intenção.
Calcata and belgian marble, 48 x 35 x 35
Mixed media on canvas, 70 x 140
Virginia Brito aborda diferentes temas nas suas obras, que vão da intimidade à conexão. A artista explora o movimento da dança e adiciona cores a imagens em preto e branco, com o dançarino emergindo neste ambiente colorido e vibrante ao seu redor, conferindo nova vivacidade e presença à pintura. Por outro lado, nas suas pinturas a óleo sobre madeira, Virgínia destaca imagens que exaltam a tranquilidade, combinando a representação de animais que reforçam este conceito. A sua escolha de tons claros enfatiza a predominância da serenidade e do silêncio.
Oil on wood, 20 x 27 / Oil on wood, 25 x 30
Oil on paper, 29 x 17 / Oil on paper, 14 x 20
A exposição, "O Coletivo", ocupa o espaço da Galeria Resistência, propondo diferentes reflexões. A importância de combinar percepções e linguagens visuais diversas destaca a necessidade de uma exposição coletiva. Através da amalgamação de obras criadas em contextos distintos e da expressividade de cada artista, torna-se possível contemplar a relação que cada um estabelece com o material e as emoções que se manifestam nas suas obras. A exposição não apenas exibe o potencial individual de cada artista, mas também enfatiza o potencial coletivo de trazer para o mesmo espaço possibilidades de diálogo entre as obras e novas indagações.
Texto por Luiza Melo
Crítica de arte